"Guardiões da floresta" - um discurso imoral.
O ser humano é essencialmente gregário. Essa característica levou ao surgimento das cidades, o que, por conseguinte, proporcionou o desenvolvimento das sociedades humanas em todos os aspectos. Com efeito, o mundo urbano permite ao homem aproveitar amplamente seus potenciais. Muitas populações, em todo o mundo, permanecem, contudo, ainda excluídas dos benefícios da urbanização, o que limita, inclusive, o acesso à plena cidadania. Uma enorme dívida social em muitos países.
Nesse sentido, deveria ser considerado como dever moral para todas as sociedades nacionais criar condições para que grupos humanos forçados pela pobreza a permanecerem isolados possam decidir sobre a conveniência ou não de aderirem à vida urbana.
No caso da região amazônica, de dimensões continentais, com patamares de desenvolvimento socioeconômico baixíssimos, esse tema é especialmente relevante. Há milhares de pequenas comunidades isoladas, espalhadas pela floresta, nas margens dos rios, onde seres humanos vivem como animais, sem acesso a nada. Não têm saúde, nem educação, nem segurança alimentar, nada. Mais triste, essa gente não tem esperança de mudar seu próprio destino.
Mesmo assim, há quem, vergonhosamente, defenda a permanência dessas populações em seu eterno estado de isolamento. Entre esses, estão algumas ONGs que desenvolvem projetos de compensação REDD+ (Redução de Emissões de gases de efeito estufa provenientes do Desmatamento e da Degradação florestal). Ora os projetos de REDD+ são os instrumentos que visam garantir para o comprador de créditos de carbono que a floresta no qual investiram seus recursos permanecerá intocada. Se a floresta, que é o estoque de carbono, for desmatada ou queimada, o investimento vira, literalmente, fumaça. O "mecanismo" proposto por essas ONGs, então, é manter essas pessoas, já tão sofridas e espoliadas, nas comunidades isoladas como "guardiões da floresta". Ora, propor isso é imoral e covarde! É usar e abusar da miséria alheia.
Para maquiar essa indecência com alguma moralidade, apresenta-se o insustentável discurso de que se está protegendo essas pessoas, pois se as mesmas fossem para a cidade correriam risco social, inchando as periferias urbanas, expondo-se a todo tipo de precariedade.
Quem aceita esse argumento parece esquecer que todos devem ter o direito de arriscar para prosperar. Esse talvez seja o direito mais precioso para qualquer ser humano. Tanto é assim que não há ninguém que, tendo deixado sua comunidade na floresta e vindo para a cidade, decida retornar à vida de precariedade anterior. Na cidade, pode ser mais duro em alguns aspectos, mas há, ao menos, esperança, embora, muitas vezes, frustrada. Mas, ainda assim é esperança, algo impossível de se ter em situação de isolamento na floresta.
As ONGs tentam dissimular a dura verdade com pequenos investimentos em construção de escolhinhas (as quais, em geral, não têm professor, a propósito), realizando projetos de geração de renda que nunca prosperam, entre outras inutilidades. Tudo para fazer crer que sempre haverá um contingente de escravos para guardar os investimentos em "estoque de carbono". Querer reduzir a valorosa gente da Amazônia em "guardiões da floresta" é um acinte.
Por que não vão os dirigentes dessas ONGs, os "ambientalistas", os investidores que financiam essa vergonha, eles mesmos serem os tais "guardiões"?! Por que não mandam seus filhos estudarem nas "escolhinhas" que constroem para os miseráveis?! Ora, seria querer muito. Esses ongueiros e seus patrocinadores moram luxuosamente em bairros nobres das grandes cidades, viajam pelo mundo em primeira classe, hospedam-se em hotéis cinco estrelas, mandam os filhos para as melhores universidades mundo afora...
Os amazônidas que querem o melhor para a região, para seus filhos e para si mesmos devem repudiar o discurso vazio e enganoso da sustentabilidade e da conservação ambiental, assim como da economia "verde". O que devemos todos nós desejar é a normalização da vida econômica na região, com plena exploração de todos os recursos naturais já, para nossa geração, com respeito ao meio ambiente, mas com foco principal no desenvolvimento econômico. O grande legado que devemos deixar para as futuras gerações não é uma floresta intocada, mas sim PROSPERIDADE. É a prosperidade que permitirá a todos amazônidas a consecução de um grandioso destino, tanto individual quanto coletivo.
Belisário Arce
Diretor Executivo
Associação PanAmazônia