Colômbia – paz e esperança

O cessar-fogo firmado entre o governo colombiano e as Farc é um fato históricode grande relevância para todo o subcontinente sul-americano, em especial, para a Amazônia continental. O compromisso assumido entre as partes estabelece como será conduzido o desarmamento das Farc para que ela se converta em uma força política legalizada, além de determinar a completa renúncia ao uso da violência. Mas, nem tudo são flores. A paz completa ainda depende de negociações formais com o Exército de Liberação Nacional - ELN, a segunda maior guerrilha do país. Esse processo nem se iniciou. Persiste, também, a questão de como eliminar os inúmeros e poderosos grupos criminosos armados que atuam com desenvoltura na Colômbia.

 

Com o acordo, parte do território colombiano, incluindo vastas porções da Amazônia, que ficou décadas fora do alcance de ação do Estado, será “reintegrado” à nação. Por mais de 50 anos, essas áreas eram terra sem lei. Nesses cinco decênios de extrema violência, registraram-se mais de 200 mil mortes e dezenas de milhares de sequestros. Quase 7 milhões de pessoas tiveram de fugir de suas cidades e refugiar-se para escapar do terror.

 

Com a paz, a Colômbia, que já vem apresentando, há alguns anos, forte crescimento do PIB, pode tornar-se uma locomotiva para a economia do subcontinente sul-americano.  Esse sucesso se deve à decisão de sucessivos governos de perseguir o equilíbrio macroeconômico, mantendo a inflação baixa, controlando rigorosamente os gastos públicos, favorecendo a abertura econômica, e melhorando o ambiente de negócios. A propósito, o ranking Doing Business, do Banco Mundial, que analisa o ambiente facilitador de negócios em 189 países, atribui àColômbia a 24ª posição, enquanto ao Brasil, à desonrosa120ª. A Colômbia é a campeã nesse quesito na América Latina. Todos esses fatores contribuíram para que a Colômbia se tornasse atrativa para o mercado internacional.Empresas do mundo todo passaram a investir na Colômbia, incluindo muitas do Brasil. Grifes mundiaisde luxo também foram atraídas pela afluência do topo da pirâmide. Lojas caras, como Cartier, e Dolce&Gabbana se instalaram no país

 

No caso da relação com o Brasil, a paz deve potencializar as oportunidades já existente, que são muitas e não devem ser desperdiçadas. A Colômbia compra pouco do Brasil, em torno de US$ 4 bilhões ao ano. Mas a pauta é boa, pois 90% é de manufaturas industriais. O Amazonas exporta para lá concentrado de bebidas da Recofarma, barbeadores descartáveis, motocicletas, aparelhos de celular, etc. O valor é em torno de US$ 40 milhões. Em um novo cenário de paz e prosperidade, essa relação comercial pode ser fortementeampliada.

 

Vale lembrar que, em 2015, o governo federal voltou seus olhos para a Colômbia, a 2ª economia da América do Sul, firmando acordos que favorecem a ampliação do comércio bilateral. As perspectivas são especialmente promissoras para as montadoras de veículos, que esperam a repetição do que já ocorreu com o México, que se tornou importante consumidor dos carros fabricados no Brasil em passado não muito distante.

 

Para as empresas amazônicas, valeria o empenho em prospectar parcerias e oportunidade com o país irmão. Temos uma fronteira comum de 1.000 km, o que favorece o estabelecimento de agenda amazônica densa e proativa. A integração entre a Amazônia brasileira e a colombiana é o caminho natural para quebrar a inércia socioeconômica que persiste em grande parte da região. O novo cenário de paz enseja novas iniciativas. E, embora, ainda, haja um longo e difícil caminho pela frente, há, agora, o que mais importa: esperança renovada. Parabéns, Colômbia!

 

Manaus, 28 de junho de 2016.

Belisário Arce

Presidente

Associação PanAmazônia