Integração PanAmazônica - Venezuela

Neste texto, dá-se continuidade à série iniciada há três semanas sobre a importância da integração e cooperação com os países amazônicos, tratando, hoje, da Venezuela.

A Venezuela bolivariana criada por Hugo Chávez é fruto de tensões profundas entre as camadas sociais menos favorecidas e as oligarquias que, historicamente, controlaram o país. A válvula de escape foi a de sempre, a eterna receita latino-americana: populismo, alcunhado de bolivarianismo, mas sem conexão verdadeira com os ideais do Libertador, nem em conteúdo e muito menos na forma.

De certo modo, o Chavismo é o avesso do ideal bolivariano, inspirado na vida e obra de Simón Bolívar. O verdadeiro bolivarianismo combate todo tipo de injustiça, defende o esclarecimento pela educação das classes menos favorecidas, promove a igualdade, a liberdade a fraternidade, e, especialmente, propõe a união de todos os povos das Américas, para a criação de uma grande, altiva, forte e solidária pátria latino-americana. Nada Bolívar defendeu mais do que o congraçamento dos povos irmãos de nosso continente.

Dessa perspectiva, o que o Governo da Venezuela faz, ao fomentar crises de fronteira com a Colômbia, deportando milhares de colombianos ou, ao contestar 30% do território da República Cooperativa da Guina, criando grave crise com dois dos três países com os quais tem fronteiras, é a mais completa traição dos elevados ideais do bolivarianismo. Com isso, revela-se que, embora se chame de República Bolivariana da Venezuela, esse belo e valoroso país, hoje, nada tem de bolivariano.

Pior de tudo é a motivação para essa agressão que se comete contra os povos e contra a fraternidade do subcontinente sul-americano. O óbvio motivo do Presidente Nicolás Maduro é eleitoreiro, pois precisa urgentemente desviar o foco do descontentamento popular. Isso porque a situação econômica está caótica. Ano passado, por exemplo, os preços aumentaram 68% e a economia entrou em recessão.

O colapso do valor do petróleo acentuou ainda mais os problemas do país: as receitas de exportação desse recurso natural caíram pela metade. A incapacidade do governo de Nicolás Maduro em dar respostas efetivas a esses desafios fez com que a popularidade do governo caísse para 23%. Assim, Maduro inventa uma crise com a Colômbia e outra com a Guiana para distrair os venezuelanos de problemas reais, bem às vésperas da eleição parlamentar de dezembro.

Do ponto de vista de negócios para a Amazônia brasileira, a Venezuela apresenta muito potencial. Sua indústria manufatureira é muito atrasada e limitada. Quase todas as manufaturas são importadas. A agropecuária também é pouco desenvolvida. Por incrível que pareça, na Venezuela não há criação de gado. Em suma, é um país muito dependente de compras externas para suprir seu mercado interno. Um prato cheio.

Com isso em vista, em 2008, o governo brasileiro fomentou a assinatura de um acordo de cooperação produtiva com o país vizinho. Chegou-se a abrir um escritório da Apex e da Embrapa em Caracas. A ideia era fomentar forte cooperação na área empresarial e promover a redefinição dos fluxos comercias da Venezuela em favor dos exportadores brasileiros. Não deu certo.

Um grande entrave aos negócios é o receio dos empresários brasileiros a falta de respeito aos contratos. Também, fala-se muito da corrupção e da burocracia que andam de mãos dadas por lá (e aqui também).

O potencial, contudo, é real. Um país irmão, com vasta fronteira comum, com boa ligação rodoviária, com acesso ao Caribe, grande mercado e um dos principais produtores de petróleo. Temos de estar atentos e prontos para aproveitar as oportunidades quando o cenário político permitir.

 

Manaus, 24 de novembro de 2015.

 

Belisário Arce

Presdiente

Associação PanAmazônia